Como é a sua relação com o trabalho?
Estamos em tempos de “precisamos mais”. Mais resultados, metas mais ousadas, mais produtividade, mais performance, mais coisas e mais tempo no trabalho para conseguir cumprir todos esses “mais”.
Esses dias postei uma foto no Facebook de uma pessoa lendo um livro que dizia o seguinte:
“O dia tem vinte e quatro horas. José dorme, geralmente, oito. E trabalha doze – contando o horário de almoço e transporte.
Restam-lhe quatro horas de vida, que ele gasta, na maioria das vezes, assistindo TV.
Chegue mais perto, José: É isso que o senhor chama de vida?”
Muitas pessoas se reconhecem nesse mesmo cenário. Só que pelo menos o José dorme oito horas, geralmente. Na vida real, ou não se dorme esse tempo todo, ou quando se dorme, a qualidade desse sono é bem duvidosa, justamente pelo estresse vivido diariamente para cumprir os tais “mais”.
Eu não trabalho mais em empresa há dez anos, mas tenho contato com muitas pessoas que trabalham, e relatam uma “vida” muito parecida com a do José.
Será que não está na hora de mudarmos nossa relação com o trabalho? Será que trabalho é só aquilo que fazemos de tal a tal hora, e que recebemos uma remuneração para isso?
Eu tenho mudado minha relação com o trabalho. Tenho cultivado em mim um conceito diferente daquele que aprendi. O conceito de trabalho que venho cultivando é: Trabalho é tudo aquilo que tem um fim útil. Pensando assim, a maioria das minhas atividades diárias é “trabalho”, só que é trabalho que alimenta a vida e não que me tira dela! E tem também as atividades que alimentam o meu trabalho, a pausa, o descanso, o lazer, atividade física, a música, alimentação saudável, as relações eco ativas, ou seja, tudo com um fim útil, e que alimenta o meu trabalho.
Eu sempre tive uma pilha por produtividade. Não podia passar dez minutos sem fazer nada relacionado ao trabalho remunerado, no tempo que é considerado hora útil, que me vinha uma sensação de inutilidade. Quando eu trabalhava em empresa, parar para tomar um café era um esforço tremendo, parecia que estava gastando um tempo que devia estar produzindo, porque eu era paga para produzir. Mas em algumas empresas não precisava ser assim, ou seja, era eu que exigia isso de mim.
Depois que saí do mundo corporativo essa pilha se manteve. Eu precisava ocupar meu tempo o tempo todo. Até que em 2015 eu quebrei o pé. Aí a coisa começou a mudar de figura. Não podia dirigir, não conseguia ficar muito tempo sentada porque tinha dor, não podia caminhar muito em casa, porque não podia pôr o pé no chão. Foram três meses de um novo aprendizado, onde tive que me relacionar com a vida e comigo de uma forma diferente.
Eu não quero que você precise passar por algo intenso e doloroso para desacelerar. Esse tipo de vida é insana, doentia, e pode causar muitos, muitos prejuízos. Na sua saúde, nas suas relações familiares, sociais, e na sua relação com você mesmo.
Aí algumas pessoas me falam assim, mas o que eu posso fazer? A empresa exige. E eu te pergunto, é assim que você quer viver? É isso que você chama de vida? A empresa exige e está tudo bem? Será mesmo que não existe outra forma de se posicionar frente as exigências da empresa? E será que você quer? E será que a empresa exige mesmo?
Talvez seja a hora de tomar uma decisão e fazer escolhas. Você não é escravo nem da empresa, nem de suas “necessidades”. Aliás, quais são realmente suas necessidades? Será que você pode abrir mão de algo para ter uma VIDA melhor? Talvez aquela bolsa mega cara, aquele sapato da última moda, aquele super celular, aquele super carro. Será que essas coisas valem sua vida? Quando você trabalha enlouquecidamente e compra coisas, na verdade o que está fazendo não é comprando coisas, e sim, vendendo horas da sua vida.
Talvez seja a hora das pessoas começarem a questionar, de aprenderem a dizer não, de terem um posicionamento diferente frente as exigências do mundo e da sociedade, que as separa de quem elas realmente são.
Parece que está ruim assim. O Brasil, primeiro lugar no ranking mundial de pessoas com transtorno de ansiedade, e quinto lugar de pessoas com depressão.Nós somos seres humanos e não maquinas de produzir. O corpo não dá conta, a mente não dá conta, não acompanha. De onde você acha que vem os diagnósticos de tanta gente com depressão, ansiedade, estresse? Pessoas dependentes de drogas para dormir e relaxar?
De onde vem? De uma cobrança interna e externa por mais e mais.
E agora isso vem sendo transferido para os filhos, para as novas gerações. Crianças que desde muito cedo são cheias de obrigações para já estarem à frente. À frente de quem? De outros seres humanos, e então a vida virou uma grande competição entre seres da mesma espécie? Se liga, estamos todos no mesmo barco!
Talvez você realmente não possa mudar seu posicionamento neste momento. Talvez tenha feito escolhas que agora te exijam um padrão de vida que precisa manter, mas aí a pergunta é: Por quanto tempo? Até quando? E se você ficar doente? Será que não tem nada que você possa abrir mão agora?
Precisamos mudar nossa relação com o trabalho e com o que chamamos de vida. Não é fácil, mas é possível. E já tem uma galera fazendo isso. Só que você que trabalha muito, não tem tempo nem de saber disso.
O trabalho que remunera é importante sim, mas não pode ser a coisa mais importante da vida, pois o preço pode ser alto demais.
A saúde, as relações, a alimentação, atividade física, os compromissos particulares, o lazer, as pausas, tudo isso tem um fim útil! Tudo isso é vida e não pode ficar em segundo plano. Tudo tem de ser parte de um mesmo plano, o plano que se chama viver!
Esse lance de trabalhar demais, de viver para trabalhar pode esconder algo muito sutil. A dificuldade de convivência consigo. Ficar quieto, ter horas livres, ter pausas, abre o olhar para dentro, e isso pode ser extremamente doloroso, mas te digo que é extremamente necessário, para não chegar no final dos seus dias e se arrepender de não ter vivido plenamente a vida.
Te convido a fazer uma reflexão sobre isso. Precisamos desacelerar. Ou vamos acelerar o nosso fim.
E você, qual ação vai colocar em prática a partir de hoje para desacelerar?
Beijos e até a próxima 😉